20/12/2007

Paulistas investem no enoturismo e na produção de vinho artesanal

Os vitivinicultores de Jundiaí e região apostaram no casamento do turismo com a produção de uvas e vinhos. Desde 2006, participam do projeto Desenvolvimento da Produção de Uvas para Vinho e Vinhos Artesanais de Jundiaí e Região, que tem o apoio do Sebrae/SP. O objetivo é fortalecer o enoturismo e a produção de vinhos artesanais ou coloniais.

Nove municípios do Estado de São Paulo fazem parte da iniciativa. Além de Jundiaí, integram o projeto as cidades de Valinhos, Vinhedo, Louveira, Itatiba, Jarinú, Itupeva, Indaiatuba e São Miguel Arcanjo. As duas últimas estão mais voltadas para o fornecimento de matéria-prima para as vinícolas, sobretudo em função do preço competitivo da terra.

Quem visitar a região poderá saborear um vinho característico daquele tipo de solo e clima. Como são artesanais, os vinhos produzidos nesses municípios só são encontrados lá. Há também vários itinerários do roteiro paulista do vinho e os visitantes ainda conhecerão um pouco mais da herança deixada pelos imigrantes italianos e portugueses.

A maioria das propriedades que participam do projeto está dentro do Pólo Turístico do Circuito das Frutas. Existem também ações para ampliar a participação dos produtores de vinho artesanal nos roteiros oferecidos pelo Pólo. O grupo estuda ainda a criação do Roteiro do Vinho Artesanal do Circuito das Frutas, previsto para os negócios já aptos a receber visitantes. A idéia, de acordo com o vitivinicultor Daniel Micheletto é vender o vinho agregado ao turismo.

Artesanal – O diferencial da cadeia vitivinícola de Jundiaí e região é justamente a produção de vinhos coloniais. O gestor do projeto, Marcos Alexandre Mange, conta que os vitivinicultores do projeto não querem competir diretamente com os grandes produtores de vinho. “O nosso diferencial é a produção de vinhos artesanais. Nós não estamos brigando com os produtores dos outros estados ou os de outros municípios de São Paulo. Produzimos vinhos para serem vendidos em Jundiaí e região, no circuito das frutas”, explica. Mange afirma, contudo, que ainda há necessidade de um especialista para trabalhar na adequação das uvas às condições de solo e clima da região. Segundo ele, se a parceria com a Embrapa Uva e Vinho não se concretizar até meados de 2008, os produtores envolvidos no programa deverão procurar especialistas no estado de São Paulo. “Enxergo condições de produzirmos boas uvas e bons vinhos em São Paulo, por isso a necessidade urgente de um técnico para o projeto”, avalia.

Atualmente, 50 produtores estão no projeto. Desse total, 16 são vitivinicultores, 14 vinicultores e 20 viticultores. Muitos estão no negócio há gerações e seus vinhos levam os nomes das famílias. Entre elas, Amatto, Azzolin, Micheletto, Leoni, Giuseppe Osso, Boschini, Galvão, Fontebasso, Vendramin, Beraldo Di Cale. Há outras marcas, como a Vinhos Torre Alta e a Extravitis.

Micheletto defende que a produção em menor escala possibilita o maior controle de qualidade e a garantia da identidade regional. “É mais fácil controlar a qualidade do vinho produzido em menor escala. Além disso, com o aumento da plantação de uva, garantiremos que o nosso produto exprima as características de clima e solo do circuito das frutas”, afirma.

Os produtores do projeto plantam 47 hectares e produzem anualmente cerca de 150 mil litros de vinho colonial, elaborado com 80% de uvas comuns. As uvas mais cultivadas na região são a Isabel, Bordô, Seibel 2 e Niagara branca e rosada, reconhecida como a melhor uva dessa espécie no Brasil e no mundo. Entre as uvas finas, a Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Moscatos, Sauvignon Blanc.

Apesar de os vinhos finos serem produzidos em menor escala, vitivinicultores estão investindo no cultivo de parreirais de uvas viníferas, além da melhoria das tecnologias aplicadas nas adegas. Para o início de 2008, está prevista a colheita da primeira safra de Syrah. Foram plantados lotes experimentais deste tipo de uva nos municípios de Louveira e Vinhedo por produtores das famílias Micheletto, Amatto e Benvegnú.

Mas nem todo o lote experimental de Syrah será colhido no início do próximo ano. Há previsão de colheita em junho e julho. “O inverno é período de seca na região, e a amplitude térmica entre o dia e a noite favorece a completa maturação das uvas. Com isso, conseguiremos processar vinhos com melhor qualidade”, explica Marcos Alexandre Mange, coordenador do projeto.

A condição climática da região permite que os viticultores façam mais de duas podas num ano. A consultora Jacira Tosin explica que o sabor do vinho feito com a uva colhida no inverno é superior a da colheita do período das chuvas. “Perto da chuva a uva não tem um grau de maturação tão bom quanto no inverno. O teor de açúcar fica alterado.”

Inovação – Há testes com outras variedades viníferas para, no médio prazo, identificar as que melhor se aclimataram na região. Por outro, os pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) trabalham na criação de novas uvas. Recentemente, desenvolveram o híbrido Máximo (IAC138-22), resultante do cruzamento entre a Seibel 11342 e a Syrah. Segundo Daniel Micheletto, essa uva se adaptou bem à região e tem tolerância à praga.

Quando essa nova variedade é vinificada corretamente, o seu vinho tem características de um fino. “Na parte gustativa, o vinho feito com a uva Máximo se assemelha aos vinhos finos. No entanto, também é perceptível o caráter das uvas americanas. É um vinho que agradará o público que gosta do cheiro de suco de uva e desfruta de um sabor qualificado. A Máximo dá um toque mais fino na uva americana”, avalia Marcos Alexandre.

De acordo com Jacira, o tempo é o segredo para o vinho da uva Máximo ficar no ponto certo. “Fizemos alguns testes e descobrimos que esse vinho só poderia ficar de 36 a 48 horas com a casca. O vinho comum fica cinco dias, mas isso é muito tempo para o híbrido, que ficava adstringente.” A consultora ressalta ainda que o tempo de consumo do IAC 138-22 é a partir de dois anos, assim como os vinhos finos.

Resgate – A família Micheletto planta uva de mesa há pelo menos três gerações no município de Louveiras. Há cinco anos, decidiram resgatar a tradição familiar do cultivo de uvas viníferas e a produção de vinho artesanal. “O cultivo da uva e a produção de vinho sempre foi uma forma dos imigrantes expressarem sua identidade cultural”, fala Daniel Micheletto.

Hoje, os Micheletto cultivam quatro hectares de uva, principalmente a Isabel, Bordô e Lorena. Produzem cerca de 8 mil litros de vinho artesanal com o que é plantado de uvas viníferas. Daniel diz que a família está investindo para que o vinho seja a sua principal receita, inclusive cultiva, experimentalmente, meio hectare de uvas finas. “O vinho ainda não é nossa atividade principal, mas estamos investindo para que seja.”

Além do Sebrae, dão suporte aos produtores: a Associação dos Vitivinicultores de Vinhedo (Avivi); a Associação de Produtores de Vinho Artesanal do Bairro Caxambu (AVA); a Associação dos Produtores de Vinho de Valinhos (Aviva); a Associação Louveirense de Vitivinicultores (Alvi); o Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio das Frutas – CAPTA Frutas do IAC; o Sindicato Rural de Jundiaí; a Prefeitura Municipal de Louveira; Sindicato Rural de Indaiatuba; e Tosin Consultoria e Análises Químicas.

Um comentário:

RBoschini disse...

Interessante o assunto, agora mais interessante é o passo adiante que acaba de sair para a associação, esta que passou para cooperativa agora em março, possibilitando a maior divulgação dos vinhos da região.
Materia do Estadão de 9/04 conta como foi o processo e alguns detalhes.

ENDEREÇO: http://www.estadao.com.br/suplementos
/not_sup153616,0.htm

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Rogerio Boschini
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